Quem nunca se pegou rolando a tela do celular sem perceber o tempo passar? Entre um vídeo engraçado, uma notícia rápida e uma enxurrada de opiniões, passamos horas imersos em conteúdos que parecem indispensáveis. Mas será que todo esse consumo nos aproxima de algo real ou apenas de uma versão sintética da vida?
Pesquisadores vêm chamando esse fenômeno de sociedade sintética digital. A ideia é que estamos cada vez mais cercados por narrativas polidas, conteúdos produzidos para capturar atenção imediata e discursos que parecem perfeitos demais para serem questionados. São fragmentos de informação, imagens filtradas e opiniões condensadas em frases de efeito que, mesmo sem perceber, influenciam nosso modo de pensar, consumir e cuidar da saúde.
A distração excitada
No meio desse cenário, surge um conceito curioso: a distração excitada. É quando ficamos permanentemente estimulados por novidades, notificações e tendências, mas raramente conseguimos mergulhar em algo de forma profunda. Não falta conteúdo, mas sobra ansiedade. O resultado é um público conectado, mas com foco disperso, sempre tentando acompanhar o próximo post, vídeo ou notícia que promete ser imperdível nas redes sociais.
Se antes a principal crítica era o tempo gasto diante das telas, hoje especialistas alertam para a qualidade da atenção. A dificuldade de concentração atinge desde estudantes até profissionais de saúde, impactando diretamente nosso bem-estar. E, ao mesmo tempo, há sempre a promessa de que tudo isso é positivo: estamos mais informados, mais conectados, mais “atuais”. Mas será mesmo?
Discursos que compramos sem perceber
As redes sociais criaram um ambiente onde frases prontas se espalham como verdades absolutas. “Produtividade é tudo”, “quem acorda cedo vence”, “se não está online, não existe”. Esses mantras modernos moldam comportamentos, mesmo quando parecem inofensivos. Compramos discursos embalados como estilo de vida sem nos perguntar se fazem sentido para nós.
Na saúde, o impacto é direto. Basta lembrar das dietas da moda que viralizam, dos treinos milagrosos que prometem resultados em semanas ou de informações médicas que circulam sem checagem. O excesso de estímulos pode dificultar o discernimento entre conhecimento confiável e slogans digitais.
É fato: nunca tivemos acesso a tanta informação de forma tão rápida. Esse lado maravilhoso da sociedade digital também não pode ser ignorado. Podemos aprender novas habilidades, acompanhar pesquisas e criar comunidades de apoio. O problema é quando o encantamento com essa abundância nos impede de reconhecer os riscos de viver apenas na superfície.
Caminhos possíveis para lidar com a sociedade sintética
E como lidar com essa sociedade sintética sem abrir mão do que ela tem de bom? O primeiro passo pode ser reconhecer que nem todo discurso precisa ser comprado. Questionar, buscar fontes confiáveis e criar momentos de pausa são estratégias que ajudam, inclusive, a recuperar a atenção. Outra prática em alta é o chamado consumo consciente de informação: escolher horários específicos para acessar redes sociais, priorizar conteúdos mais longos e dedicar tempo à leitura ou a conversas presenciais.
Ou seja, viver em meio a discursos sintéticos não é necessariamente ruim. O desafio é não perder de vista o que é real para cada um de nós. Entre um feed que nunca para e a vida fora da tela, existe espaço para escolhas mais intencionais e talvez seja esse o verdadeiro bem-estar que vale a pena cultivar.



