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Nos últimos dias, compartilhei um vídeo no Instagram sobre algo que atravessa muita gente: a culpa de descansar. O alcance foi enorme, e os comentários tinham um ponto em comum: “eu precisava ouvir isso hoje”. Foi aí que eu entendi que o assunto não cabia só em um vídeo, ele precisava se abrir aqui na coluna, nesse espaço onde a gente aprofunda tudo aquilo que não é terapia, mas é terapêutico.

Porque descansar, no fundo, também é terapêutico! E sentir culpa por descansar também diz muito sobre o nosso tempo. Vivemos em uma sociedade que romantiza a produtividade e criminaliza a pausa, mas o que ninguém fala é que, para muitas pessoas, descansar nunca foi permitido, nem ensinado, nem possível. O descanso não é só uma prática, é um lugar de vivência e necessidade.

A culpa que não nasce sozinha

Se você se sente culpada por descansar, eu preciso te falar algumas coisas… culpa de descansar não é só psicológica, ela é histórica, cultural e, pra muita gente, socialmente imposta ou seja, a única maneira de reagir a tal. 

Tem quem cresceu ouvindo que pausa é preguiça, quem nunca pôde parar porque a sobrevivência dependia da constância, quem desde cedo aprendeu que o valor está no quanto se faz, não em quem se é e tem quem, mesmo exausto, continua, porque “se eu parar, tudo desaba”. 

Eu sempre soube disso intelectualmente, afinal sou psicóloga, estudo cuidado, estudo corpo e estudo sobre exaustão, mas foi diferente quando eu vivi isso na minha prorpria vida. Esse ano, ouvi da minha psicóloga a frase que mais temia: “Sarah, se você não parar agora, seu colapso vai aumentar” e meu corpo parou antes de mim. A mente travou,  o choro veio e eu não conseguia decidir nem o que comer no almoço e em vez de alívio por poder descansar e perceber que era exatamente o que meu corpo pedia, o que apareceu primeiro foi… culpa.

Aquela velha sensação de estar devendo algo ao mundo.

Do ponto de vista existencial, a culpa também fala da vida

A fenomenologia existencial tem uma maneira muito bonita (e um pouco dura rs) de olhar para a culpa: ela não é só erro, é condição humana.

 É a sensação constante de que estamos sempre em falta com alguma coisa: com o trabalho, com o tempo, com as expectativas, com quem nos tornamos. Mas aqui tem um detalhe importante:

  • a culpa existencial é inevitável então a culpa social não deveria ser, a culpa ontológica fala das escolhas e da finitude e a culpa social fala das cobranças e das imposições e quando essas duas camadas se misturam, o descanso vira um campo de batalha interno.

A culpa ontológica é um conceito da fenomenologia existencial que fala menos sobre “culpa porque fiz algo errado” e mais sobre o simples fato de existir. E sim, eu vou te explicar de um jeito que faça sentido: eu estou falando desse incômodo que aparece só porque estamos vivos, sabe? Afinal, isso acontece porque, toda escolha que você faz te distancia de outras possibilidades que você também poderia viver. É um reconhecimento íntimo de que você não dá conta de tudo e não porque falhou, mas seu ninguém dá.

É a consciência da finitude: no seu tempo não cabe tudo, no seu corpo não cabe tudo, na sua história não cabe tudo. Sempre vai existir algo que fica de fora, e essa ausência também produz um tipo de culpa. E quando você descansa, essa sensação às vezes aparece mais forte: como se pausar fosse desperdiçar possibilidades, como se você estivesse “deixando de viver” alguma coisa. Mas, na verdade, isso é só a vida dizendo que não existe existência sem renúncia e que descansar é também escolher e escolher sempre tem um custo.

Essa é a essência: não é culpa porque você errou, é culpa porque viver é escolher e toda escolha exige abrir mão de alguma outra coisa.

Por que é tão difícil se permitir o descanso?

Porque descansar exige presença e a presença, às vezes, revela o que evitamos sentir. Descansar expõe limites. E limite, nas nossas relações às vezes soam como defeitos, como falta e com um não comprometimento. E é por isso que preciso descender o descanso que é possível. O descanso que existe quando falta tempo, falta dinheiro, falta estrutura.

Até porque descansar que não é apenas fazer uma viagem, ir a um spa ou sempre um ritual perfeito, mas, preciso lembrar que descansar também é silêncio de cinco minutos antes da reunião, é deitar no sofá às três da tarde sem justificativa na sua folga, é tirar a pressão de sempre “ser produtivo”, é sobre desligar o celular e nao ficar 3h olhando o feed, é admitir que hoje você não dá conta, e não por isso vale menos.

Do ponto de vista clínico, descansar é fisiológico

O nosso cérebro precisa de pausa para regular emoções, consolidar memória, recuperar energia e reduzir estresse. O corpo precisa de descanso para não entrar em colapso e não existe saúde emocional sem descanso. Mas, do ponto de vista existencial, descansar é um gesto radical éescolher cuidar do que sustenta a vida e não daquilo que ela exibe.

É reconhecer que o ser corpo tem limites, que a mente tem ciclos, que o mundo não vai parar, mas você precisa e talvez o mais terapêutico sobre o descanso seja entender que: o cuidado não precisa ser bonito, constante, admirável ou produtivo para ser cuidado, ele só precisa ser real e precisa caber na vida que você tem, com o tempo que você tem e com a história que você carrega.

E lembre se você sente culpa, não é porque está fazendo algo errado é porque está fazendo algo novo, algo que talvez ninguém tenha te ensinado e algo que você finalmente merece viver – o descanso-.


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autoria

Foto de Sarah Aline

Sarah Aline

Colunista

Psicóloga, influenciadora digital e empresária, ganhou destaque nacional após sua participação em um dos maiores reality shows do país em 2023. Hoje, Sarah se dedica a democratizar a saúde mental, tornando...
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