Nos últimos anos, praticar atividade física deixou de ser apenas uma questão de saúde ou lazer. Hoje, estar ligado ao universo esportivo também significa consumir. De roupas de alta performance a suplementos alimentares, passando por relógios inteligentes e garrafas que monitoram a hidratação, o esporte acabou incorporado à dinâmica do consumo. Um levantamento da MindMiners, chamado Faces do Esporte, mostra que o brasileiro não se conecta ao esporte apenas na prática, mas também no consumo de conteúdo.
Segundo o estudo, realizado com 1.400 pessoas de diferentes regiões, classes sociais e gêneros, 67% dos brasileiros consomem conteúdos esportivos. A TV aberta ainda lidera como principal meio de acesso, mas plataformas digitais ganham espaço, especialmente entre as gerações mais jovens.
A pesquisa também destaca o peso das marcas nesse mercado. Cerca de 34% dos entrevistados afirmaram ter comprado produtos ou serviços de uma marca por ela patrocinar um time, atleta ou evento esportivo, comportamento mais comum entre homens da Geração X. Já 26% declararam ter feito compras influenciados por atletas ou celebridades esportivas, o que reforça o peso do marketing nas escolhas de compras.
Moda esportiva como símbolo de status
Essa relação entre esporte e consumo não é um fenômeno isolado. Ela se conecta a mudanças culturais, tecnológicas e sociais. Mais do que correr no parque ou se matricular na academia, estar no mundo fitness envolve pertencer a uma comunidade de práticas, hábitos e símbolos que também se expressam pelo consumo.
Se antes a camiseta de algodão e o tênis confortável eram suficientes para treinar, hoje o cenário é outro. O mercado de roupas esportivas ganhou força e se sofisticou, apostando em tecidos tecnológicos, peças que regulam a temperatura do corpo, melhoram a circulação ou prometem otimizar o desempenho.
Não se trata apenas de praticar atividade física, mas de expressar um estilo de vida. Vestir determinadas marcas no treino virou sinal de identidade e, muitas vezes, de pertencimento. E esse setor cresce rápido: de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, o segmento de moda fitness tem avançado em torno de 15% ao ano desde 2020.
O boom da nutrição esportiva
Outro setor que não para de crescer é o da nutrição esportiva. E esse movimento não é só no Brasil. Projeções internacionais indicam que o mercado global deve movimentar cerca de US$ 6,7 bilhões até 2028, segundo estimativas da Vantage Market Research.
Suplementos como whey protein, creatina e pré-treinos se popularizaram e já fazem parte do carrinho de compras de quem frequenta academia. O discurso da performance e da otimização do corpo se mistura ao marketing: produtos que antes eram consumidos por atletas profissionais hoje estão disponíveis em farmácias, e-commerces e supermercados de bairro.
Onde o brasileiro compra seus itens esportivos?
Além disso, a forma de consumir também mudou. Dados da Brain Inteligência Estratégica mostram que 35% dos consumidores costumam comprar artigos esportivos em e-commerces ou marketplaces, enquanto 32% ainda apostam nas lojas físicas e 30% acham os shoppings como o ponto de venda mais atrativo.
A Geração Z, nascida entre 1995 e 2010, é quem mais compra online: 45% optam por plataformas digitais. Os consumidores da Geração X, de 1965 a 980, ainda se mantêm fiéis aos shoppings (39%). A diferença de comportamento revela não apenas o peso da tecnologia, mas também como cada geração se relaciona de forma distinta com o universo esportivo e o consumo.
A fronteira entre moda esportiva, bem-estar e consumo
Mas até que ponto o consumo esportivo é saudável? De um lado, ele democratiza o acesso a produtos antes restritos a atletas profissionais. De outro, alimenta uma lógica de necessidade de novos itens como se o desempenho estivesse sempre atrelado a uma compra.
Essa relação pode gerar pressão, sobretudo nas redes sociais, onde a imagem do corpo perfeito e a rotina fitness viram métricas de sucesso pessoal. Afinal, há uma linha tênue entre cuidar da saúde e sentir-se obrigado a consumir para se encaixar em um padrão.
Para quem pratica, o desafio está em equilibrar os benefícios da atividade física com a enxurrada de produtos que prometem resultados rápidos ou experiências únicas. Se por um lado nunca foi tão fácil acessar informações, equipamentos e suplementação, por outro, nunca se consumiu tanto em nome da performance. O esporte, ao que tudo indica, não é apenas sobre movimento, pois é também sobre mercado.



