A menopausa ainda é cercada de tabus e muitos deles afetam o cérebro e o corpo feminino de forma silenciosa. Um dos sinais mais comuns é a chamada névoa mental (ou brain fog em inglês), caracterizada por lapsos de memória, dificuldade de concentração e raciocínio mais lento.
Esses sintomas não são apenas passageiros: fazem parte de um conjunto de alterações neurológicas causadas pela queda nos níveis hormonais. Como mostra a neurocientista Lisa Mosconi no livro O cérebro e a menopausa: A nova ciência revolucionária que está mudando como entendemos a menopausa, o cérebro é um dos primeiros órgãos a sentir os efeitos da transição hormonal.
Segundo Mosconi, os primeiros sinais da menopausa costumam surgir no cérebro antes mesmo da interrupção do ciclo menstrual. Isso porque o estrogênio, hormônio essencial para a função cognitiva, além de regular funções reprodutivas, atua diretamente nas sinapses e no equilíbrio neurológico. Quando seus níveis caem, há uma resposta cerebral que pode incluir alterações no sono, ansiedade, variações de humor e comprometimento da cognição.
No Brasil, a idade média para a entrada na menopausa é de 48 anos, mas os sintomas podem aparecer antes, durante a perimenopausa. “A mulher pode estar menstruando e não fazer a conexão entre o que sente e a questão hormonal”, explicou a ginecologista Patrícia Magier no programa Conexão VivaBem, conduzido por nossa colunista Flávia Alessandra, que também teve a participação da atriz Lavínia Vlasak.
Alterações hormonais afetam diretamente o cérebro na menopausa
Muitas vezes, de acordo com a ginecologista, sinais como cansaço ou insônia são atribuídos ao estresse da rotina, o que dificulta o diagnóstico e adia o início do tratamento. “A menopausa é muito ligada ao etarismo. É difícil para nós, mulheres, assumirmos que estamos ‘ficando velhas’. E muitos dos sintomas que aparecem a pessoa não atribui a menopausa porque ainda está menstruando. Por exemplo, quando uma mulher está cansada, pode achar que é a rotina. Se está dormindo mal, é capaz de achar que é estresse”, afirmou Patricia. “Os principais sintomas são cansaço, alteração na memória e acordar no meio da noite. Quando esses sintomas começam a atrapalhar a vida, se tornam graves. O corpo vai dando sinais, é importante ficar atento a eles”, recomendou.
76 sintomas afetam as mulheres
A médica também explicou como as alterações hormonais afetam diretamente o cérebro. “O hipoestrogenismo gera a neuroinflamação, pois as sinapses nervosas ficam comprometidas e inflamadas. Então, todos os sintomas como brain fog estão ligados. São 76 sintomas que acometem a mulher e podem gerar depressão, ansiedade, transtorno de pânico e fobia”, afirmou.
A boa notícia é que, com o avanço da ciência, o cérebro na menopausa está deixando de ser um território negligenciado. Portanto, reconhecer os sinais, sobretudo os que envolvem a saúde mental e cognitiva, é essencial para buscar ajuda especializada. Assim, se sintomas como cansaço constante, insônia e falhas na memória começarem a interferir na rotina, vale procurar um profissional. Com acompanhamento médico e informação de qualidade, é possível atravessar essa fase com mais saúde, autonomia e, inclusive, clareza.