Falar sobre saúde sexual ainda é, para muitas pessoas, sinônimo de constrangimento. O assunto costuma vir cercado de tabus, dúvidas e até preconceitos. Mas quando ampliamos o olhar, fica claro: saúde sexual é sinônimo de qualidade de vida e vai muito além da ausência de doenças ou da prática sexual em si.
A ginecologista Giovana Krumbiguel, que participou do Utalks apresentado por nossa colunista Flávia Alessandra, explica que o conceito é mais abrangente do que parece. “Muitas pessoas associam saúde sexual apenas à saúde vaginal, mas são coisas totalmente diferentes. Na sexologia, usamos dois termos: genitalidade e sexualidade”, afirma. “A genitalidade se refere à atividade sexual em si. Já a sexualidade vai além, englobando a saúde física do órgão reprodutivo junto com a saúde mental, emocional e a ausência de doenças. Ou seja, você precisa estar bem com seu corpo, sua mente e seu ambiente social para ter uma boa saúde sexual”.
Quando a saúde sexual não vai bem
Giovana lembra que existem sinais que não devem ser ignorados. “Entre os sintomas físicos estão dor durante a relação, tensão muscular na vagina, candidíase recorrente ou doenças como a endometriose. No campo emocional, é um alerta quando a mulher mantém relações apenas por obrigação, sem desejo ou prazer”, explica. Esses quadros, segundo a médica, não necessariamente significam um problema permanente, mas podem indicar que é hora de buscar apoio profissional. Situações de estresse intenso, sobrecarga de trabalho ou períodos de baixa hormonal, como a menopausa, também impactam a libido.
Menopausa: mudanças e possibilidades
Durante o podcast Pé no Sofá Pod, a ginecologista e terapeuta sexual Olívia Oléa destacou que, na perimenopausa e na menopausa, a queda hormonal pode afetar diretamente o desejo sexual. “Nessa fase, a mulher tem carta branca para se conhecer, investir em autoestima e, quando necessário, considerar o uso de terapias hormonais, como a testosterona, que ajudam a melhorar a libido e a qualidade das relações”, pontua.
Ela ressalta ainda que inclusive alguns métodos contraceptivos hormonais também podem interferir no desejo. “Todos os métodos com pausa, menos o DIU Mirena, podem afetar a libido. É por isso que cada mulher precisa observar como o corpo responde”, completa.
Dicas para cultivar uma boa saúde sexual
Se saúde sexual não é apenas ausência de doenças, a pergunta inevitável é: o que fazer para mantê-la? As especialistas apontam alguns caminhos:
Atividade física regular: “O exercício físico melhora a circulação, favorece a lubrificação e aumenta a produção de endorfina, reduzindo a dor e aumentando o prazer”, afirma Giovana.
Diálogo aberto: de acordo com Giovana, entre os 10 e 12 anos já é indicado introduzir conversas sobre camisinha, prevenção de doenças e consentimento. Se a criança traz o tema antes, o ideal é responder de forma clara e sem tabu.
Atenção aos sinais do corpo: corrimentos, coceiras, dores ou desconforto devem ser avaliados por um especialista. A primeira ida ao ginecologista pode ser indicada já na primeira menstruação ou antes, em caso de sintomas.
Cuidado com a saúde mental: burnout, estresse e ansiedade estão entre os fatores de queda de libido. Buscar acompanhamento psicológico pode ser tão importante quanto a consulta médica.
Autoconhecimento: observar o próprio corpo, entender períodos de maior ou menor desejo e reconheconhecer necessidades individuais são importantes para uma vivência sexual saudável.
Portanto, falar de saúde sexual é falar de bem-estar integral. Reconhecer que corpo, mente e emoções estão interligados é o primeiro passo para lidar com o tema sem culpa. O Dia do Sexo, celebrado em 6 de setembro, é mais do que uma data curiosa: é uma oportunidade para lembrar que a sexualidade faz parte da vida de todos nós e merece atenção, cuidado e respeito.