Para quem convive com alergias ou intolerância alimentar, cada refeição pode se transformar em um exercício de atenção, cuidado e, algumas vezes, de renúncia. Os números ajudam a entender o tamanho do problema: segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 200 e 250 milhões de pessoas no mundo sofrem com algum tipo de alergia alimentar.
No Brasil, a situação também chama atenção. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, os alimentos são os principais causadores de anafilaxia (uma reação alérgica grave e potencialmente fatal) e respondem por 42,1% dos casos. Entre eles, os que mais desencadeiam essa reação são o leite de vaca, mariscos, ovo, trigo e amendoim.
Na prática, muita gente confunde os dois termos, mas eles não são a mesma coisa. Quem explica é a nutricionista Elaine Pádua, que participou do programa Conexão VivaBem, ao lado da nossa colunista Flávia Alessandra e da cantora Lexa. Segundo Eliane, a intolerância alimentar está ligada a dificuldades do organismo em digerir determinados nutrientes, especialmente carboidratos. É o caso da intolerância à lactose, quando o corpo não produz a enzima lactase na quantidade necessária. Os sintomas mais comuns são desconfortos gastrointestinais, como inchaço, gases, constipação ou diarreia. Embora traga prejuízos à qualidade de vida, a intolerância não representa risco imediato de morte.
Já a alergia é outra história. Nesse caso, o corpo reage contra proteínas presentes nos alimentos, liberando imunoglobulinas e histamina, substâncias que provocam desde sintomas leves, como urticária e coceiras, até crises graves, como o fechamento da glote e o choque anafilático. “Quem tem alergia pode ter reações imediatas, que aparecem logo após a ingestão, ou tardias, que demoram até 72 horas. É uma condição séria e exige diagnóstico e acompanhamento médico”, explica a especialista.
Como as alergias e a intolerância se manisfestam
Alergias e intolerâncias se manifestam de formas diferentes, mas ambas podem ser identificadas observando com atenção os sinais do corpo. No caso da intolerância, os sintomas aparecem geralmente no sistema digestivo, variando de acordo com a quantidade consumida do alimento.
Já as alergias podem se expressar de maneira mais ampla: na pele, no sistema respiratório, no trato gastrointestinal e até no desenvolvimento infantil, afetando aprendizado e comportamento. “O problema é que muitas vezes a rotina corrida faz com que a gente ignore sinais. O corpo dá avisos, mas nem sempre paramos para ouvir”, lembra Pádua.
A cantora Lexa também falou sobre como aprendeu a lidar com sua alergia a alho, uma proteína que desencadeia reações fortes em seu organismo. “Quando engulo alho, começo a me coçar, aparecem placas vermelhas, fico mal, vomito. Depois que descobri, passei a avisar nos restaurantes e buscar lugares em que posso escolher os ingredientes”, conta.
O depoimento reforça um ponto importante: quem tem alergia precisa adotar estratégias de sobrevivência no dia a dia. Isso inclui desde verificar rótulos de produtos até ter cuidado redobrado com a forma como os alimentos são preparados.
Prevenção e cuidados na cozinha para evitar alergias e intolerância alimentar
Para evitar acidentes, algumas medidas são essenciais. Restaurantes e cozinhas devem ter utensílios exclusivos para preparar pratos de pessoas alérgicas, separar áreas de manipulação para não haver contaminação cruzada, revisar receitas e sempre verificar os rótulos dos ingredientes utilizados.
Para quem cozinha em casa, a regra é a mesma: atenção total. E, claro, ter sempre por perto a medicação indicada pelo médico para emergências, no caso de quem já teve episódios de reação grave. Uma notícia que pode trazer alívio é que algumas alergias, sobretudo as diagnosticadas na infância, podem desaparecer ao longo do tempo. Ainda assim, é fundamental manter acompanhamento médico para saber quando e se é seguro reintroduzir determinado alimento.
Comer com segurança e leveza
Se por um lado alergias e intolerâncias exigem restrições, por outro não precisam ser encaradas apenas como limitações. Hoje, o acesso à informação e à variedade de produtos no mercado facilita a vida de quem precisa substituir ingredientes.
O mais importante é entender que, no caso da alergia, a prevenção é questão de segurança. Já para quem tem intolerância, conhecer seus limites ajuda a conviver melhor com a condição. Em suma, alergias e intolerâncias são formas do corpo dizer que algo não vai bem. Respeitar esses sinais é cuidar da própria saúde.



