Cantar junto com milhares de vozes, sentir o som reverberando no peito e compartilhar sorrisos com amigos e desconhecidos. Para muitos, ir a um show é apenas entretenimento, mas cada vez mais estudos mostram que essa experiência melhora até a saúde emocional. Um estudo publicado na revista Personality and Social Psychology Bulletin analisou a experiência de quase 800 pessoas em quatro pesquisas diferentes. Os resultados mostraram que participar de concertos e festivais reduz o estresse, melhora o humor e aumenta a sensação de pertencimento social.
Segundo os autores, o fator coletivo foi determinante: estar cercado por outras pessoas que compartilham do mesmo gosto musical potencializa os benefícios emocionais. Esse fenômeno, chamado de efervescência coletiva, envolve a liberação de neurotransmissores como dopamina e ocitocina, ligados ao prazer e à conexão social. O estudo também acompanhou participantes semanas depois das apresentações e verificou que aqueles que relataram maior envolvimento durante os shows apresentaram índices mais elevados de satisfação com a vida e de bem-estar subjetivo.
A experiência de quem viaja para shows
Essa sensação de energia renovada é algo que Juliana Lima, assistente de operações, conhece bem. Moradora do Recife, em Pernambuco, ela já atravessou o país diversas vezes para participar de festivais, como o Lollapalooza e o Balaclava Fest, em São Paulo. Para ela, o deslocamento faz parte do ritual e reforça ainda mais a experiência.
“Quando vou a festivais, minha mente entra em outro ritmo. É como se os problemas ficassem pausados. A expectativa para ver a banda favorita, compartilhar o momento, dançar, cantar e sorrir com os amigos faz meu humor melhorar. No final das contas, a sensação não acaba ali, dura por dias, porque fico ouvindo as músicas, lembrando dos shows e vendo as fotos. É como se eu tivesse minha energia renovada”, afirma.
Juliana lembra também da primeira vez em que conseguiu realizar o sonho de assistir a um festival internacional. “Lembro até hoje de colocar o pé no evento e me emocionar. Eu via aquilo como algo distante por ter sido uma adolescente sem dinheiro e morar no Nordeste, onde não há tantos festivais. Conseguir viver essa experiência em outro estado foi muito especial”, diz.
Música como refúgio emocional
A fala de Juliana traduz exatamente o que os especialistas descrevem: a música ao vivo funciona como um espaço de suspensão do cotidiano. Para um grande número de pessoas, é como um terceiro lugar, conceito popularizado pelo sociólogo Ray Oldenburg para designar espaços que não são casa nem trabalho, mas funcionam como refúgios de bem-estar e socialização. Os festivais e shows, nesse sentido, cumprem um papel parecido. Eles oferecem um território onde é possível se desconectar das obrigações e viver o presente em intensidade. A experiência de compartilhar emoções com milhares de pessoas cria memórias coletivas que fortalecem vínculos mesmo entre desconhecidos.
Outro ponto importante é que os benefícios não ficam restritos ao momento do show. De acordo o estudo, semanas após a experiência, os participantes que viveram altos níveis de conexão coletiva relataram maior sensação de propósito e felicidade. Isso acontece porque o cérebro resgata a memória emocional ligada ao evento sempre que a pessoa revisita músicas ou fotos do dia.
Assim, aquela playlist do festival ou o registro em vídeo da sua música favorita ao vivo não são apenas lembranças. Eles funcionam como estímulos que reativam o bem-estar experimentado, prolongando seus efeitos. No universo do wellness, a música aparece cada vez mais como uma forma de autocuidado. Se práticas como meditação, yoga e atividade física são reconhecidas por diminuir o estresse e melhorar a saúde mental, os shows entram como mais uma possibilidade divertida, intensa e coletiva de cuidar da mente e das emoções.
Ir a um show pode ser visto, portanto, não apenas como lazer, mas como investimento no equilíbrio emocional. É uma forma de celebrar a vida, criar conexões e recarregar as energias. E talvez seja exatamente isso que explica por que tantas pessoas, como Juliana, se deslocam quilômetros em busca dessa vivência: porque no fim, o que se leva não é só a música, mas a sensação de estar vivo e presente.