Mesmo com o aumento das discussões sobre saúde mental nos últimos anos, o acesso ao tratamento segue abaixo do ideal. Segundo uma pesquisa publicada na revista JAMA Psychiatry por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica e da Escola Médica de Harvard, apenas cerca de 7% das pessoas com transtornos mentais ou problemas relacionados ao uso de substâncias fazem o tipo de tratamento adequado. Ou seja, a maioria ainda lida sozinha com questões profundas, muitas vezes sem sequer considerar procurar ajuda.
No episódio sobre Saúde Mental do podcast Pé no Sofá Pod, apresentado por nossas colunistas Flávia Alessandra e Giulia Costa, o psicanalista e pesquisador Lucas Liedke, criador do podcast Vibes em Análise, fala sobre por que ainda existe tanta resistência à terapia. “O não motivo para não fazer terapia talvez seja medo, preconceito, ignorância e estigmas que estão caindo aos poucos”, comenta.
Lucas reforça que, embora nem todos estejam em crise o tempo todo, qualquer pessoa pode se beneficiar de um processo terapêutico. “Terapia é um caminho de autoconhecimento e também de encarar questões difíceis. Não existe uma vida isenta de sofrimento. A gente vai passar por perdas, frustrações, limites. Estar atento ao sofrimento e conseguir se escutar é uma forma de estar mais ou menos protegido para enfrentar essas fases”.
Ele também observa como as redes sociais criaram um ambiente onde é comum disfarçar o que se sente. “A gente anda bem treinado a editar e exibir os nossos sinais para o mundo. E nisso a gente vai se perdendo um pouco do que é imagem e do que está acontecendo no real lá dentro”, reflete. Para ele, o que não aparece no feed continua existindo, só fica guardado e acumulado. “Vai ter que ter um lugar seguro, com um bom acompanhamento profissional, para você falar sobre essas questões”.
A importância da família na saúde mental
Outro ponto que Lucas destaca é o papel da família no desenvolvimento emocional de cada um. “Nenhuma mãe e nenhum pai é perfeito. Em algum momento, vai sufocar demais ou vai ser negligente. Isso vai gerar efeitos e consequências”. De acordo com ele, quem busca análise vai, em algum momento, precisar olhar para essas experiências de forma mais crítica. “A pessoa que está buscando a análise vai ter que entender que vai chegar uma hora em que ela vai precisar pensar no que vai fazer com o que fizeram dela”.
Quando o assunto é saúde mental, não há uma fórmula única nem um número mágico que indique equilíbrio. “Para a saúde física, dá para chegar num ideal a partir de algumas métricas ainda que tudo isso seja questionável. Mas para a saúde mental, estamos falando de cada um conseguir habitar sua própria cabeça e tentar viver o melhor possível”.
Em um momento em que cada vez mais pessoas buscam equilíbrio emocional, Lucas Liedke reforça uma verdade importante: fazer terapia é uma forma de se cuidar, se conhecer melhor e se preparar para viver a vida em toda a sua plenitude, com desafios, aprendizados e transformações. Cuidar da saúde mental não é apenas um ato de atenção, é um gesto de coragem, força e amor-próprio.