Durante muito tempo, eu achei que ter uma rotina de autocuidado era seguir uma lista rígida, com horários marcados e passos definidos. E isso me trazia uma ansiedade infinita, pois com os mil e um compromissos da minha vida profissional eu nem sempre conseguia cumprir tudo o que me propunha. E talvez por isso eu tenha demorado tanto a entender que os meus rituais não nasceram da disciplina, nasceram da necessidade. Da vontade de criar pausas possíveis em meio ao caos dos dias.
A gente ouve muito sobre “rituais de autocuidado”, e quase sempre essas imagens vêm embaladas por velas acesas, playlists calmas e um tempo que parece infinito. Mas o meu tempo nunca foi assim. Às vezes ele é apertado, barulhento, bagunçado e é dentro dele que aprendi a encontrar pequenos espaços para respirar.
Os meus rituais são imperfeitos, mas são meus. Montar uma mesa com carinho, mesmo que o jantar seja simples, me lembra que o cotidiano também pode ser celebrado. Um bom banho, com cheiros, cremes e o meu roupão preferido, tem o poder de reiniciar o corpo e a alma. Assistir a uma série com um balde de pipoca, sem pressa, sem culpa, é uma forma de me lembrar que descanso também é produtividade emocional.
Os rituais imperfeitos me tiram do mundo e me devolvem a mim
Tem rituais que me tiram do mundo e me devolvem a mim: viajar para o interior, desconectar, me perder em estradas e pensamentos. Desligar o telefone — quase nunca dá, mas quando dá, é libertador. E sempre que posso, mergulho no mar da Bahia, o lugar de onde vim e para onde volto sempre que preciso me lembrar de quem sou.
Esses gestos simples são âncoras. Eles me lembram que a beleza da vida não está na rotina ideal, mas nos intervalos possíveis. Não é sobre seguir um manual de autocuidado, é sobre ouvir o corpo, respeitar o tempo e aceitar que o melhor ritual é aquele que cabe dentro da vida que a gente tem.
Sou feita de rituais imperfeitos e é neles que encontro a minha inteireza.



