Me perguntam sempre como busco referências de beleza. Claro que preciso estar atento às maravilhas que a tecnologia nos traz, com produtos inovadores para a pele e marcas de maquiagem que vão surgindo. Porém, acho que o grande segredo para quem trabalha com beleza e criatividade é manter os olhos atentos aos livros, filmes, à beleza das construções e ao comportamento das pessoas durante as viagens.

De repente, você percebe que está tudo conectado. Em uma simples tarde de quarta-feira, resolvi ir ao cinema assistir ao filme “Ritas” sobre a carreira e a vida pessoal de Rita Lee, incluindo os depoimentos mais recentes da artista. O documentário é uma viagem deliciosa, com arquivos e apresentações raras. Eu sou fã de assistir a filmes sobre música no cinema, pois a experiência é outra.

É inspirador ver Rita falando sobre suas experiências e descrevendo as mudanças em sua carreira, inclusive no momento em que ela muda os cabelos de loiros para ruivos. É interessante a maneira simbólica com que ela relata essa transição: o vermelho no cabelo, segundo ela, mudou sua forma de se colocar no mundo, ficou mais vibrante, como um fogo na cabeça.

Rita Lee sabia aproveitar a beleza de todas as fases da sua vida. Falava sobre o envelhecimento com a metáfora de duas vias: a das “peruas” (que lutam contra o tempo, perseguindo a juventude eterna) e a das “feiticeiras” (que aceitam o tempo como aliado, valorizando a sabedoria, a serenidade e as novas descobertas que vêm com a idade). Para ela, ser uma “feiticeira” significava envelhecer com graça, aproveitando os poderes que a maturidade traz, como a capacidade de perceber detalhes e sutilezas da vida, e a liberdade de se desprender das expectativas e pressões sociais.

Ser uma feiticeira, no fim das contas, é talvez o maior ideal de beleza: envelhecer com autenticidade, sabedoria e liberdade. É ter coragem de mudar, de se reinventar, de escolher o vermelho vibrante quando todos esperam o neutro. É deixar para trás o peso das expectativas e abraçar a própria verdade, com leveza e potência. Porque a beleza que realmente inspira é aquela que vem da alma. Ela só cresce com o tempo.