Na hora de buscar ajuda para questões emocionais, é comum bater a dúvida sobre quem procurar: um psicólogo ou um psicanalista? Embora ambos atuem com escuta e acolhimento, os caminhos que cada um percorre e oferece são diferentes. Durante um episódio do Pé no Sofá Pod, apresentado por nossas colunistas Flávia Alessandra e Giulia Costa, o psicanalista, pesquisador e criador do podcast Vibes em Análise, Lucas Liedke, esclarece as principais distinções entre esses profissionais.
O psicólogo é formado em Psicologia, curso que oferece diversas linhas teóricas. Dentro desse campo, existem abordagens mais diretas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que busca identificar padrões de pensamento e comportamento, assim como propor estratégias práticas para lidar com eles. Outras linhas, como a humanista ou a gestalt-terapia, valorizam mais a experiência subjetiva e o momento presente.
Além disso, muitos psicólogos escolhem se aprofundar em uma abordagem específica e seguir nela ao longo da carreira. Em geral, a psicoterapia foca na melhoria da qualidade de vida, no alívio de sintomas e no fortalecimento emocional diante dos desafios do cotidiano.
Já o psicanalista segue por outro caminho. A formação em psicanálise pode ser feita por profissionais de diferentes áreas, desde que passem por análise pessoal, supervisão clínica e estudo teórico profundo geralmente dentro de instituições voltadas exclusivamente à formação psicanalítica. A base teórica parte de Freud e se desdobra em diferentes correntes, como a lacaniana, a kleiniana e a winnicottiana, entre outras.
A psicanálise parte da ideia de que existe um inconsciente atuando de forma decisiva sobre os pensamentos, emoções e comportamentos. “A psicanálise surge com a premissa de um inconsciente, esse lugar onde tem muita coisa acontecendo, reprimida, que a gente vai investigar a partir da fala do sujeito”, explica Lucas. O método valoriza a livre associação, o fluxo espontâneo da fala e o tempo de elaboração de cada pessoa.
Em uma sessão de psicanálise, não há roteiro. A escuta é mais livre e a construção se dá no tempo de quem fala. Ou seja, não é uma terapia focada em resultados rápidos. Ao contrário: a análise aposta no processo, mesmo que ele leve anos. “Tem uma certa crença na cura pela fala. A pessoa precisa falar espontaneamente. Às vezes é difícil chegar em respostas em uma análise, porque é um processo longo e demorado”, contextualiza Lucas. A proposta é abrir espaço para que o paciente se escute, se confronte e, aos poucos, ressignifique seus sintomas, conflitos e repetições.
Na dúvida entre psicólogo ou psicanalista, o ponto de partida é entender a natureza da questão enfrentada
A escolha entre psicólogo e psicanalista também passa pelo tipo de questão que a pessoa está enfrentando. “Se você tem uma dicção que está causando transtorno na vida, nos trabalhos e nos relacionamentos, por exemplo, pode buscar uma terapia comportamental. Ela vai te ajudar a identificar os comportamentos, os gatilhos, o que é estímulo e resposta”, exemplifica Lucas. Na psicanálise, no entanto, a pergunta muda: “o que aquele objeto significa? O que é satisfação, o que é gozo e o que é compulsão?”.
Mesmo sendo abordagens diferentes, a psicologia e a psicanálise muitas vezes se complementam. Há psicólogos que também são psicanalistas e há pacientes que alternam os métodos conforme as fases da vida. O mais importante é buscar ajuda qualificada, com um profissional ético e preparado, que ofereça escuta e um espaço seguro de elaboração. Afinal, saúde mental não tem fórmula pronta, mas começa por reconhecer que não é preciso enfrentar tudo sozinho.