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Dia desses, fiquei pensando sobre quem ou o que performamos ser, quem somos de verdade e como essa diferença interfere na forma como estamos presentes no mundo. Não me refiro à performance ligada ao trabalho ou à produtividade, mas àquela que se manifesta no modo como existimos. Esse movimento quase automático de agir para o outro, de buscar ser vista, reconhecida e validada. Como se minha presença no mundo dependesse da reação que ela provoca e não do que eu sinto ou realmente sou.

O problema é que esse reconhecimento não sustenta. Ele até preenche por um instante, mas logo se transforma em vazio. E então vem a próxima tentativa, o próximo esforço de se mostrar de um certo jeito. No fundo, a diferença entre performar para o outro e fazer para si é o que mais importa. Quando colocamos nossa energia em construir uma imagem, perdemos o contato com nós mesmas. 

Pense em algo tão simples quanto ir à academia: posso ir com atenção plena, sentindo cada músculo, percebendo o que cada exercício provoca no meu corpo, pensando na postura e sair de lá recebendo os benefícios da melhor forma. Sem dores, porque executei os exercícios corretamente com meus músculos cansados e trabalhados de um jeito respeitoso. Ou posso ir já pensando na foto que vou postar, escolher o melhor ângulo e focar nos vídeos e conteúdos que aqueles momentos vão me render. A mesma atividade, com intenções diferentes, leva a lugares opostos: uma me nutre, a outra só reforça o ciclo da performance.

Isso também vale para os momentos de lazer. Na praia, por exemplo, tenho a opção de quase não tocar no celular nem acessar as redes sociais. Tenho a possibilidade de ler um livro, escutar o barulho das ondas, perceber as pessoas ao redor — mesmo que alguém esteja com a caixa de som muito alta (risos) —, sentir o sol na pele, beber um mate e apreciar o sabor daquela maravilha. Ou posso simplesmente chegar, postar uma foto e passar o resto do tempo focada em saber se ela engajou, se teve curtidas, comentários e compartilhamentos. Esse segundo comportamento com certeza não vai me fazer sair tão renovada e nutrida quanto da forma como agi no primeiro.

E isso acontece até nos espaços onde, teoricamente, buscamos cuidado. A performance encontrou no discurso do bem-estar um novo palco. Quando o cuidado vira tendência, ele passa a ser capitalizável: vira consumo, estética, produto. E, com isso, perde o que tem de mais essencial: a verdade. Até que ponto certas influenciadoras acreditam no exercício como prática de saúde, longevidade e conexão com o corpo? Ou será que apenas reproduzem a mesma lógica de magreza, controle e autopromoção, com outra embalagem?

Estamos realmente buscando formas genuínas de cuidar de nós mesmas?

Sabemos que, no mundo em que vivemos, tudo vira capital e até aí, tudo bem. Mas será que essa necessidade de transformar tudo em capital não prejudica o outro com discursos que não são verdadeiros? Então, fica a reflexão: estamos realmente buscando formas genuínas de cuidar de nós mesmas ou só repetindo esse discurso para continuar pertencendo? Como buscar um bem-estar que seja verdadeiramente nosso, que venha de dentro e não só mais um papel a ser interpretado?

Porque performar cansa. Estar presente, não. Mas estar presente é muito mais difícil do que parece, sobretudo em uma era em que somos bombardeados por tantas informações e estímulos ao mesmo tempo. E é nessa diferença que começa o cuidado de verdade.


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autoria

Foto de Giulia Costa

Giulia Costa

Artista e assistente de direção

Artista, cineasta e amante do mar, da natureza e dos animais. Entusiasta de um olhar mais leve e de conversas francas. No Meu Ritual quero inspirar cada um a ter uma jornada mais gentil – com menos pressa e...
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