Você já parou para pensar como pequenos sinais do corpo podem estar revelando mais do que parecem? Aquela dificuldade maior para subir escadas, a perda muscular e de força ao carregar sacolas do mercado, a sensação de cansaço ou até a barriguinha que insiste em não ir embora. Esses indícios, muitas vezes vistos como naturais do envelhecimento, podem esconder uma condição que vem chamando a atenção da ciência.
Trata-se da obesidade sarcopênica, quando a gordura abdominal se associa à perda de massa muscular. Mais do que estética ou bem-estar, esse quadro tem impacto direto na saúde, acelerando processos inflamatórios, dificultando o metabolismo e fragilizando o sistema imunológico.
Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a University College London, acompanhou mais de 5 mil pessoas com mais de 50 anos, durante 12 anos. Como resultado, a pesquisa identificou que essa combinação de perda muscular e gordura abdominal aumenta o risco de mortalidade.
Além disso, os pesquisadores observaram que essa condição acelera processos inflamatórios, prejudica o metabolismo e compromete o sistema imunológico, deixando o corpo mais vulnerável. Embora a obesidade abdominal já seja reconhecida como fator de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas, o estudo reforça que, quando associada à baixa massa muscular, o efeito sobre a mortalidade é ainda mais expressivo.
Por que a perda muscular e o acúmulo de gordura acontecem
A obesidade sarcopênica surge principalmente com o avanço da idade. A partir dos 40 anos, é natural ocorrer uma perda gradual de massa muscular, que pode se intensificar por falta de atividade física, má alimentação ou doenças crônicas.
Quando, além dessa perda, há acúmulo de gordura na região abdominal, os efeitos negativos se multiplicam. Essa gordura visceral é metabolicamente ativa, liberando substâncias inflamatórias que afetam o funcionamento dos órgãos e aumentam o risco de problemas como diabetes tipo 2, hipertensão, infartos e até alguns tipos de câncer.
Como é feito o diagnóstico?
Atualmente, o diagnóstico tradicional da obesidade sarcopênica depende de exames que não são tão acessíveis para uma parcela da população, como bioimpedância elétrica, ressonância magnética e tomografia computadorizada. Por isso, os cientistas buscaram alternativas mais simples. Eles descobriram, por exemplo, que a medição da circunferência abdominal, combinada a uma estimativa da massa magra com base em dados como peso, altura, idade e sexo, pode indicar a condição com boa precisão.
Portanto, os dados mostram que a obesidade abdominal, quando não vem acompanhada da perda de massa muscular, não chega a representar um risco expressivo. O problema surge quando as duas condições aparecem juntas, criando um cenário que acelera o declínio da saúde. Contudo, a boa notícia é que esse processo não é inevitável. Com acompanhamento adequado, prática de exercícios e uma alimentação equilibrada, é possível preservar a força, evitar complicações e garantir mais qualidade de vida e autonomia ao longo dos anos.