Há fases da vida que chegam de forma silenciosa, mas transformam tudo. A menopausa é uma delas. Mais do que o fim do ciclo menstrual, ela marca o início de uma nova etapa física, emocional e, muitas vezes, social. Apesar de ser uma experiência universal para as mulheres, ainda é um tema cercado de silêncio, desconforto e até vergonha. O que poderia ser um processo natural e compreendido, muitas vezes se torna um período de insegurança e isolamento.
Mas o que aconteceria se, em vez de guardar tudo para si, as mulheres começassem a dividir essa experiência com amigos, familiares e parceiros? Talvez o peso diminuísse e a fase se tornasse mais leve, mais compreendida e mais acolhedora.
O que é, afinal, a menopausa?
A menopausa é definida pela interrupção permanente da menstruação por um período de 12 meses consecutivos, geralmente ocorrendo entre os 45 e 55 anos. Antes dela, há o climatério, uma fase de transição em que o corpo já começa a reduzir a produção de estrogênio e progesterona, os hormônios responsáveis por regular funções essenciais do organismo.
Essa queda hormonal pode causar sintomas variados, como ondas de calor, insônia, irritabilidade, ganho de peso, ansiedade e alterações de humor. Ainda assim, muitas mulheres demoram a perceber que os sintomas que sentem têm relação direta com essa fase natural do corpo.
No programa Conexão VivaBem, da nossa colunista Flávia Alessandra, a ginecologista Patricia Magier chamou atenção para essa confusão comum. “As mulheres começam a ficar impacientes e acham que é TPM, mas, quando essa irritação e o humor deprimido se tornam constantes, é algo a mais. É importante não normalizar os sintomas”, explica.
Segundo a médica, há uma ligação direta entre a queda dos níveis de estrogênio e a saúde mental. Pesquisas recentes apontam que a neuroinflamação causada por essa deficiência hormonal é responsável por uma série de sintomas cognitivos e emocionais durante a menopausa. A consequência disso é que muitas mulheres acabam recebendo diagnósticos equivocados. “Elas chegam ao consultório tomando Rivotril, ansiolítico, melatonina, antidepressivo… e, na verdade, o que precisavam era apenas repor hormônio”, afirma Magier.
Quando o corpo fala e ninguém ouve
A atriz Lavinia Vlasak, 49 anos, também participou do programa e compartilhou sua experiência. “Estou há seis meses sem menstruar. Tenho insônia, desperto durante a madrugada e sinto calores intensos”, conta. Lavinia está no climatério, a fase que antecede a menopausa, e suas palavras ecoam a realidade de milhões de mulheres.
Um estudo latino-americano publicado no periódico Climacteric revelou que uma em cada cinco mulheres (20,6%) nessa fase relatou distúrbios do sono, com impacto direto na qualidade de vida.
A pesquisa analisou 1.185 mulheres na pós-menopausa, com média de 56,9 anos, e mostrou que os sintomas não se restringem ao físico: também afetam a rotina, as relações e a autoestima.
Mesmo com mais informação disponível, a menopausa ainda é tratada como tabu. Muitas mulheres preferem lidar sozinhas, por medo de serem vistas como “velhas”, “difíceis” ou “instáveis”. Mas é justamente nesse silêncio que o sofrimento se intensifica.
A atriz e empresária Naomi Watts viveu isso de perto e decidiu transformar sua experiência em diálogo público. Em seu livro “Vou Te Contar: Tudo o que Queria que Tivessem Me Falado Sobre a Menopausa”, ela mistura relatos pessoais com informações de especialistas para quebrar o estigma e incentivar outras mulheres a falarem sobre o tema.
Dividir os sintomas da menopausa para aliviar
Falar sobre o que se sente com amigos, família ou colegas pode ajudar a atravessar esse período com menos angústia. Conversar sobre insônia, calores, irritação ou falta de libido não é reclamar da vida, é normalizar o corpo feminino em todas as suas fases.
Quando as pessoas ao redor entendem o que está acontecendo, a empatia cresce. Parceiros passam a compreender melhor as mudanças de humor, filhos aprendem a respeitar o espaço e amigas se apoiam em experiências semelhantes. É nesse ambiente de apoio que a menopausa pode deixar de ser um desafio e se tornar uma fase de autoconhecimento e reequilíbrio.
Viver a menopausa é também ressignificar o envelhecimento. É entender que o fim de um ciclo não precisa representar perda, mas transformação. Muitas mulheres relatam que, após os ajustes iniciais, sentem mais liberdade, autoconfiança e conexão com si mesmas.
Trocar experiências, buscar informação e cuidar da saúde física e emocional são formas de atravessar essa fase com mais equilíbrio. Além de terapias hormonais, exercícios e boa alimentação, o apoio social tem papel importante nesse processo. Porque quando a menopausa é dividida ela pesa menos. E, no fim das contas, o que realmente muda não é o corpo, mas a forma como escolhemos atravessar essa fase: juntas, informadas e em paz com o próprio tempo.