Segundo o Instituto Lipedema Brasil, ao menos cinco milhões de mulheres brasileiras podem ter lipedema sem saber. A condição, ainda pouco reconhecida por aqui, já é tema de maior debate em países como Alemanha, Espanha e Estados Unidos, onde a conscientização cresce e os tratamentos estão mais avançados.
O cenário começou a mudar no Brasil em 2022, quando o lipedema foi incluído na CID-11, a Classificação Internacional de Doenças. Mesmo assim, o caminho ainda é longo para que a informação chegue ao grande público e as pacientes encontrem acolhimento e tratamento adequado.
No programa Conexão VivaBem, nossa colunista Flávia Alessandra recebeu a médica intensivista e campeã do Big Brother Brasil 2023, Amanda Meirelles, que falou sobre a importância de discutir o tema abertamente. “Lipedema é um acúmulo de gordura desproporcional na parte inferior do corpo e pode também afetar os braços, mas causa muita dor. Não é só uma gordurinha, é uma doença que causa manchas e nodulações”, explicou Amanda.
Principais sinais do lipedema
O lipedema atinge quase exclusivamente mulheres e costuma se manifestar em períodos de grandes alterações hormonais, como a puberdade, a gestação e a menopausa. Ele é frequentemente confundido com obesidade ou até mesmo com celulite, mas se diferencia por provocar dor, sensibilidade, hematomas frequentes e inchaço persistente. Um dos sinais mais evidentes é a desproporção entre membros inferiores e tronco, característica que leva muitas pacientes a buscarem ajuda sem encontrar, de imediato, um diagnóstico preciso.
De acordo com Amanda, trata-se de uma condição médica e não estética. “É uma doença inflamatória. Quando estamos mais inflamadas, essa gordura dói. Os sintomas são pernas desproporcionais ao tronco e presença de nodulações na parte interna da perna, que não saem com dieta e exercício físico”. A própria médica compartilhou sua experiência após deixar o reality show: “Só descobri que tinha lipedema depois que saí do programa e senti muita dor na perna. Eu olhava para a minha perna e estava cheia de irregularidades com nodulação e roxos”.
Como é feito o diagnóstico de lipedema?
O diagnóstico, de fato, é um dos grandes desafios. Não existe um exame específico para detectar o lipedema. O processo é clínico, baseado na avaliação dos sintomas e no histórico da paciente. Exames de imagem, como a ultrassonografia, podem auxiliar na investigação, principalmente para descartar outras condições, como problemas linfáticos ou insuficiência venosa. “Para detectar, o profissional pode fazer exames como ultrassom para analisar a camada de gordura e verificar se há inflamação ou outro diagnóstico envolvido”, detalha Amanda.
A literatura médica descreve quatro tipos principais de lipedema, classificados de acordo com as regiões do corpo afetadas. No tipo I, o acúmulo de gordura aparece apenas em quadris e nádegas. No tipo II, a alteração se estende até coxas e joelhos. Já no tipo III, o excesso alcança desde o quadril até os tornozelos, deixando toda a perna desproporcional. O tipo IV, por sua vez, além dos membros inferiores, também afeta os braços. Em todos os casos, o tronco tende a se manter proporcionalmente menor, acentuando o contraste entre as partes do corpo.
Os cuidados devem ser personalizados e conduzidos por uma equipe interdisciplinar
Embora não exista cura, há diferentes possibilidades de tratamento que podem reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Os cuidados devem ser personalizados e conduzidos por uma equipe interdisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas e nutricionistas, entre outros profissionais. O tratamento inclui, por exemplo, mudanças no estilo de vida, como a prática regular de atividade física, alimentação equilibrada e estratégias de controle da inflamação.
Além disso, procedimentos fisioterapêuticos, como drenagem linfática e uso de meias de compressão, podem ajudar a aliviar o inchaço e o desconforto. Em estágios mais avançados, ou quando o impacto é muito grande na vida da paciente, a cirurgia pode ser considerada. “Em alguns casos, é necessário usar antioxidantes, antifibrosantes e, em outros, lipoaspiração”, explica Amanda.
Portanto, embora ainda falte reconhecimento amplo no Brasil, o aumento do debate em torno do lipedema é um passo importante. Para muitas mulheres, finalmente receber o diagnóstico significa entender que as dores, os hematomas e a dificuldade em perder gordura localizada não eram apenas vaidade ou falta de esforço, mas sintomas de uma doença. A informação, somada ao acolhimento profissional, é fundamental para transformar essa realidade e garantir que o lipedema seja tratado com a seriedade que merece.