Segundo um estudo publicado na revista científica Nature, a vacinação contra o herpes-zóster pode ter um efeito protetor contra o declínio cognitivo, sobretudo em mulheres. A análise, conduzida por pesquisadores britânicos, revelou que mulheres com mais de 80 anos que receberam a vacina apresentaram um risco 20% menor de desenvolver demência ao longo de sete anos. O levantamento foi feito com base em dados de saúde pública de quase 300 mil adultos no País de Gales, em uma das pesquisas mais abrangentes realizadas sobre o tema.
Os cientistas utilizaram um recorte populacional bastante específico para observar os efeitos da vacina. No Reino Unido, pessoas nascidas em ou após 2 de setembro de 1933 passaram a ser elegíveis para a vacinação gratuita contra o herpes-zóster a partir de 2013, enquanto indivíduos nascidos poucos dias antes dessa data permaneceram inelegíveis. A partir desse critério, os pesquisadores compararam os dois grupos ao longo de sete anos usando registros eletrônicos de saúde, o que permitiu uma análise com forte poder estatístico.
Além da redução no risco de demência, o estudo confirmou que a vacina Zostavax, utilizada no programa de imunização, teve impacto direto na prevenção do herpes-zóster em si. Entre os vacinados, houve uma redução relativa de 37% nos casos da doença, resultado que reforça os achados de ensaios clínicos anteriores. De acordo com os autores, esse efeito pode ser explicado por três possíveis mecanismos: a prevenção de reativações do vírus varicela-zóster, mudanças nos caminhos de cuidado em saúde após infecções e um efeito imunológico mais amplo, ainda em investigação.
O herpes-zóster, também conhecido como cobreiro, é uma reativação do vírus da catapora (varicela-zóster), que pode permanecer inativo no corpo por décadas. Quando reativado, costuma provocar dor intensa, lesões na pele e, em casos mais graves, inflamações que afetam o sistema nervoso.
Um ponto que chama atenção nos resultados é a diferença entre os sexos. A proteção contra a demência foi observada principalmente em mulheres. Para os pesquisadores, essa disparidade pode estar ligada a fatores como a maior incidência de demência em mulheres e possíveis diferenças biológicas na forma como a demência se desenvolve entre homens e mulheres.
Embora mais estudos sejam necessários para compreender os mecanismos envolvidos, os resultados reforçam o papel da vacinação como uma estratégia de saúde pública que vai além da prevenção de infecções. Em um cenário global de envelhecimento da população, os achados do estudo abrem caminhos para ações de prevenção que incluam também o cuidado com a saúde cerebral dos idosos, especialmente das mulheres.