A maternidade após os 40 anos é um tema que gera tanto debate quanto curiosidade. Casos como os da modelo Gisele Bündchen e da atriz Claudia Raia, que vivenciaram a gravidez nessa fase da vida, levantam dúvidas: é totalmente possível planejar uma gravidez após os 40 anos?
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de brasileiras que se tornaram mães após os 40 anos cresceu 60% entre 2010 e 2022. O interesse pelo congelamento de óvulos também está em alta no país: entre 2020 e 2023, o número de mulheres que passaram pelo procedimento aumentou 76%. O maior crescimento ocorreu entre pessoas com menos de 35 anos, faixa etária em que a alta foi de 98%, de acordo com um levantamento da Anvisa.
É possível ter uma gestação saudável após os 40 anos, diz médica ginecologista
Em um episódio do programa Conexão VivaBem, apresentado por nossa colunista Flávia Alessandra, o tema da gravidez tardia foi discutido com a atriz Bruna Spínola e a ginecologista Cristiane Coelho, que trouxe orientações para quem deseja engravidar após os 35 anos. “A biologia diz que a idade fértil da mulher mais propícia para engravidar e ter um bebê saudável é entre os 20 e 30 anos. Após os 35 anos, a fertilidade natural vai caindo, e a quantidade e qualidade dos óvulos diminuem”, explica Cristiane.
Ela também destaca que, com o avanço da idade, o organismo da mulher passa por mudanças que podem afetar a gestação. “Após os 35 anos, a mulher pode ter mais complicações na gestação por causa do sistema hormonal, vascular e metabólico, porque o organismo, no geral, vai envelhecendo”, completa. Sobre os riscos da gravidez após os 40 anos, a médica ressalta: “Para a mãe, existe o risco de diabetes gestacional, hipertensão, mais partos prematuros e maior chance de cesárea. Já os riscos fetais estão ligados a questões genéticas, porque, com o envelhecimento dos óvulos, aumentam as chances de aborto, infertilidade ou de o bebê nascer com alguma síndrome”.
Apesar dos desafios, Cristiane reforça que, com informação, preparo e acompanhamento médico adequado, a mulher pode ter uma gestação saudável. “É super possível engravidar após os 35 anos, mas a mulher precisa estar bem e ter um planejamento para cuidar da saúde”, pontua.
Histórias reais de gravidez após os 40 anos
A engenheira eletrônica Fabiana de Jesus engravidou do filho aos 43 anos, uma decisão planejada após três anos de casamento. Depois de suspender o anticoncepcional, os planos de engravidar foram adiados por um ano devido à epidemia de microcefalia. Quando retomaram, Fabiana enfrentou dois anos de espera, mesmo com exames normais.
O caminho até a gravidez, no entanto, teve suas particularidades. Sua médica alertou sobre a quantidade reduzida de óvulos pela idade e estabeleceu um prazo de três meses antes de indicar a fertilização assistida. “Eu tinha medo de não poder engravidar e de a criança ter algum problema de saúde decorrente da deficiência do organismo por conta da idade”, revela.
Para a surpresa de Fabiana, o positivo veio em um exame de controle de ovulação. “Eu já estava grávida de 6 semanas e tinha inclusive batida de coração”, conta. Porém, a reta final da gestação trouxe um imprevisto: a placenta envelheceu precocemente, exigindo acompanhamento semanal e resultando no nascimento do bebê 20 dias antes do previsto, com 37 semanas.
Gravidez madura com desafios e boas surpresas
A história da assistente social e representante comercial Flávia Teixeira, 41 anos, mãe de Lorena, de 5, e Heitor, de 5 meses, também ilustra a jornada da maternidade madura. Após perder duas gestações, uma em 2022 e outra em 2023, Flávia engravidou de Heitor de surpresa, apesar do receio pelos históricos anteriores. “A decisão do segundo filho aconteceu por minha filha querer muito um irmão. Em 2024, procuramos um médico e fizemos os exames de investigação de trombofilia e os resultados deram normais, eu não tinha nenhum problema”, relata.
A idade, para Flávia, foi um alerta, mas nunca uma preocupação. “Quando fiquei grávida aos 40, e fiz meus primeiros exames, já tomei um susto, estava com diabetes gestacional e com um descolamento que o médico acredita não ter nada a ver com a minha idade gestacional”, recorda.
As diferenças entre suas gestações foram marcantes. Enquanto na primeira, Flávia fez musculação e teve muita disposição, a gravidez de Heitor foi mais delicada. “O descolamento ovular maior que 50% fez com que eu ficasse em repouso quase que absoluto durante os três primeiros meses”, relembra. Além disso, a diabetes gestacional impôs uma dieta rígida e a impossibilidade de exercícios físicos. Manter o equilíbrio emocional, cuidar da filha mais velha e gerenciar as cobranças internas foram alguns dos muitos desafios que Flávia enfrentou.

Flávia Teixeira ao lado dos filhos. Crédito: acervo pessoal.
Ainda assim, Flávia é otimista em relação à maternidade madura. “Sinto que mesmo com as dificuldades de uma gravidez após os 35, a medicina já evoluiu bastante. Acredito que, hoje, notamos as mulheres primeiro pensando na sua carreira, em se estabelecer financeiramente e depois ter filhos”, observa.
Para Flávia, a ideia de que a mulher não pode ser mãe após os 40 é um mito. “Com os exames em dia, um bom acompanhamento médico e disposição é só seguir em frente”, afirma. E, com paixão, conclui: “Posso dizer que tudo valeu a pena. Sou apaixonada por eles e acho que é a minha melhor função: ser mãe”.