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Você já sentiu uma angústia diante das notícias sobre queimadas, secas ou enchentes? Uma sensação de impotência diante do tamanho da crise climática? Esse mal-estar tem nome: solastalgia, o sofrimento causado pelas mudanças ambientais e pela devastação da terra que, ao invés de ser um cenário distante, já se tornou parte do cotidiano.

O que caracteriza a ansiedade climática é esse paradoxo: estamos cada vez mais informados sobre os impactos das mudanças climáticas, mas, ao mesmo tempo, nos sentimos paralisados diante da ideia de que o futuro pode não oferecer garantias. É a angústia do descontrole. O amanhã, antes associado a progresso e bem-estar, passou a carregar incertezas e vulnerabilidade.

Parte desse vazio vem da crença de que o ser humano está separado da natureza. Crescemos acreditando que a terra é algo a ser dominado, regulado e explorado. Mas, como lembra o escritor Antônio Bispo dos Santos, “nossa relação com a terra não é de regularização, e sim de relacionamento”. Em outras palavras, não existe humanidade sem natureza. Nós somos a terra. Negar essa conexão gera não apenas desequilíbrios ecológicos, mas também subjetivos, emocionais e sociais.

O futuro não é algo distante, mas algo que se desenha agora

Hoje, exaustos pelo ritmo da produção e pelo excesso de futuro projetado, nos vemos órfãos de perspectivas. Como lidar com um amanhã que parece incerto demais e um presente que parece insuficiente? Talvez seja hora de recuperar outras formas de pensar o tempo. Para muitas tradições ancestrais, o futuro não é algo distante, mas algo que se desenha agora (“Exú acertou um pássaro ontem com a  pedra que encontrou hoje”). O que fazemos no presente reverbera tanto no passado quanto no futuro. Isso abre espaço para outra lógica: não precisamos esperar a salvação que virá adiante; podemos agir já.

A luta ambiental é, nesse sentido, mais do que preservar florestas. É também uma forma de justiça social. Reparar danos climáticos se conecta com reparar danos históricos, e essa integração pode reacender a esperança. Afinal, como lembram lideranças indígenas, o futuro não é apenas tecnologia, mas também (e talvez até mais) terra, água, comunidade, rituais e modos de estar no mundo que não separam pensamento de ação.

É verdade que estamos em um momento de falta de futuro, mas isso não precisa significar imobilidade (digo isso para mim mesma). Ao recuperar o vínculo com a natureza e questionar a lógica do progresso a qualquer custo, podemos reencontrar no agora um espaço de cuidado e reconstrução. E, quem sabe, abrir frestas para imaginar futuros menos pesados e mais possíveis.


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autoria

Foto de Giulia Costa

Giulia Costa

Artista e assistente de direção

Artista, cineasta e amante do mar, da natureza e dos animais. Entusiasta de um olhar mais leve e de conversas francas. No Meu Ritual quero inspirar cada um a ter uma jornada mais gentil – com menos pressa e...
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