A obsessão da nossa sociedade pela juventude eterna nos leva a uma triste constatação: em algum momento, seremos chamadas de velhas. O que realmente incomoda nessa experiência é a mentalidade que a acompanha, como se o tempo fosse um inimigo e envelhecer, um erro a ser escondido. A gente vive nessa era do culto ao corpo idealizado e das harmonizações faciais que buscam a perfeição instantânea… Nesse cenário, parece que só somos valiosas se nos encaixarmos em um filtro de Instagram, onde a pele é sempre impecável e as marcas da vida, apagadas.
No mercado de trabalho, então, o etarismo se manifesta de um jeito tão sutil quanto cruel. É aquela sensação de que suas décadas de experiência, que deveriam ser um trunfo, de repente viram um obstáculo. Parece que a bagagem que a gente carrega, cada projeto entregue, cada desafio superado, perde o valor diante de um rosto mais jovem. E dói perceber que essa mentalidade nos coloca de lado, como se a nossa jornada tivesse um prazo de validade.
E como mulher, sinto esse peso dobrado. Já vivi na pele a experiência de publicar uma foto de maiô curtindo um dia de sol e receber comentários maldosos sobre a minha idade, inclusive de outras mulheres! Enquanto isso, vejo homens da mesma idade sendo elogiados, chamados de galãs, na mesma situação.
No empreendedorismo, por exemplo, mesmo com alguns avanços, a liderança masculina ainda é muito presente. No mundo artístico, a cobrança pela imagem é infinitamente maior para as mulheres, e isso só se intensifica com o passar dos anos. É revoltante essa diferença de tratamento e a pressão constante em todas as áreas da vida.
Mas eu me recuso a aceitar essa narrativa. Meu desejo é que nós, mulheres, possamos viver sem essa lupa sobre a nossa aparência, assim como construir uma rede de apoio onde a sororidade seja a regra, e não o julgamento. Olho para mulheres incríveis que continuam a realizar e inspirar em todas as fases da vida, e isso me mostra que existe um caminho diferente. Chegou a hora de mudar essa mentalidade e mostrar que a vida, em qualquer idade e com todas as suas experiências, é palco para continuarmos sonhando e realizando. O etarismo não pode ser uma barreira para o futuro que desejamos.
*Já abordei esse tema de uma forma mais bem-humorada no meu quadro “Só Se Fala”. Convido você a clicar aqui e conferir!