É curioso como a vida pode virar de ponta-cabeça com uma única notícia, da noite pro dia, literalmente. No meu caso, isso aconteceu 30 dias antes de uma cirurgia que mudaria tudo. Era o dia 6 de junho, um dia antes foi aniversário de 50 anos da Flávia. Às 20h30 do dia 6, fazendo um simples ecocardiograma, descobri que havia dentro de mim uma espécie de bomba-relógio: um aneurisma.
Essa palavra habitava um inconsciehte assustador, pois lembro que era uma doença, condição de saúde muito grave. E mais do que isso, ela poderia me tirar a vida a qualquer momento. Aquilo me desestabilizou. Senti raiva, medo e culpa por ter negligenciado meu check-up nos dois últimos anos. E, de repente, como num filme do Christopher Nolan, tudo ficou muito louco e difícil de entender. E ganhou um tom de despedida. Aqueles dias e eventos, ganharam o contorno de “última vez” para tudo. Aniversário da Flávia, apresentação de ballet da Oli e assim por diante.
No meio dessa montanha-russa emocional, com altos e baixos constantes, chegou o momento em que eu precisei mudar meu pensamento: era preciso “positivar a timeline” mental. E foi neste momento que decidi fazer uma séria reflexão para me guiar por este novo caminho; e foi aí que me fiz várias perguntas: “Otaviano, vão abrir o meio do seu corpo para te salvar, mas e se não der certo? De peito aberto, responda: Você viveu o que tinha para viver? Amou sua família, esteve presente e a colocou em 1º lugar? Realizou seus sonhos?”.
E, assim por diante, uma a uma, fui respondendo e percebi que sim: eu tinha vivido de peito aberto. Com presença, intensidade e amor. Então pensei que, independentemente do desfecho, eu estava “realizado” e com menos “culpa no cartório”. Pois imagine só partir para algo tão importante e não ter este certeza em seu peito. Que frustração deve ser para uma pessoa que, diante de uma situação como esta, faz estas mesmas perguntas e descobre que não havia vivido completamente.
E isso me trouxe um ótimo olhar e equilíbrio sobre o todo, que carreguei até o centro cirúrgico. E como um astronauta do desconhecido, fui para um planeta que nunca havia explorado e…voltei! A cirurgia, ainda bem, foi um sucesso. O astronauta não morreu.
Ao contrário! Logo no segundo dia de UTI, vivi o que considero meu primeiro grande momento de superação: comecei a fisioterapia e já consegui andar. Sim, como diz, mais ou menos, a famosa frase do cosmonauta Neil Armstrong: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a…humildade”. Sim, humildade. Pois não foi fácil começar, como um “bebezão”, apoiado por seres humanos incríveis, mas foi simbólico.
Lembro-me deste momento claramento, quando a Flávia (o tempo todo) estava ali ao meu lado, emocionada, vibrando e registrando em seu celular, aquele momento mágico. Depois disso veio a alta, o contato com o mundo lá fora e, então, a cena mais emocionante: a chegada em casa. Fui recebido pelas pessoas que trabalham com a gente há anos, com carinho, balões e uma energia de celebração. Parecia meu aniversário. E, de certo modo, era mesmo. Renasci.
O pós-operatório exigiu cuidado e paciência. Nos primeiros 30 dias, nada de esforços, nem supino na academia ou carregar peso. Só podia dormir de barriga para cima, o que incomodava bastante a coluna. Mas encarei esse tempo como parte do processo. Havia muita gratidão, como até hoje e portanto, nada me desanimava. Estava vivo e pronto para mais vida. Aliás, depois de 60 dias, fui liberado para tudo: voltei aos exercícios, aos esportes, à rotina. E, mais do que o corpo, a mente também foi voltando ao lugar.
Hoje, um ano depois, vivo uma rotina absolutamente normal, sem impedimentos físicos ou mentais. Recentemente, fiz meu check-up e está tudo maravilhoso. Isso me dá uma certeza: eu sou um abençoado. Se você está passando por algo parecido, saiba: os dias que antecedem uma cirurgia assim são desafiadores. Os altos e baixos são intensos. A cabeça viaja, o coração aperta, o medo cresce. Mas posso dizer com convicção: confie. A medicina está preparada, os médicos sabem o que fazer. Cerque-se de amor, pois ele cura, fortalece, dá coragem. E tenha fé. A fé é um revestimento invisível que nos sustenta quando o chão parece desaparecer. E, acima de tudo, não negligencie sua saúde. Um simples eletrocardiograma salvou minha vida e pode salvar a sua.
Se cuide e se ame.
Sua vida, não é só sua.
É de quem te ama e te quer bem.
Não coloque em risco seu futuro.
Cuide-se agora pois, assim como aconteceu comigo, do nada, o tempo pode não lhe dar mais tempo para nada.