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O bullying deixou de ser um problema restrito aos corredores das escolas e ganhou um território ainda mais desafiador: o digital. Hoje, o chamado cyberbullying é uma das formas mais comuns de violência entre jovens no Brasil. Segundo o Anuário de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as denúncias de bullying ultrapassaram 2.500 registros no país, sendo que a maioria das vítimas tem entre 10 e 17 anos. Só os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina respondem por mais da metade dos casos.

O tema foi destaque em uma live promovida nesta quinta-feira (12) pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com a presença de Antônio Geraldo da Silva, presidente da entidade, Ervin Cotrik, vice-coordenador da Comissão Sociedade Contra o Preconceito, e Giulia Costa, apresentadora e assistente de direção. A conversa trouxe dados, experiências pessoais e reflexões sobre como lidar com essa realidade.

“O bullying é um comportamento agressivo e intencional que visa intimidar, humilhar e machucar alguém de forma repetida. Ele pode ser físico, verbal ou psicológico. O cyberbullying é tudo isso feito via internet com mensagens ofensivas, ameaças, compartilhar imagens ou vídeos humilhantes”, explicou Antônio.

Do cyberbullying à lei

O combate ao cyberbullying ganhou um reforço recente. A Lei 15.199 de 2025, aprovada neste ano, prevê medidas específicas para ampliar a conscientização no Setembro Amarelo e instituiu o 17 de setembro como o Dia Nacional de Combate ao Cyberbullying. Além disso, a prática passou a ser considerada crime, com pena que pode variar de 2 a 4 anos de prisão.

Para Antônio, a regulamentação é fundamental. “Quando falamos de regulamentação, é porque o mundo precisa de regras. A regra e a disciplina têm suas importâncias”, disse durante a transmissão. A fala ecoa um ponto central: sem leis claras, a internet pode se transformar em um espaço de impunidade, onde agressões virtuais parecem “sem dono”.

As marcas do cyberbullying não se apagam com o clique em “excluir comentário”. Os impactos na saúde mental podem ser sérios. “Entre as consequências do cyberbullying, estão ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldades acadêmicas e profissionais. Já tivemos casos de pessoas que morreram por causa disso”, lembrou Antônio.

Episódios de exposição pública potencializam esses efeitos. Giulia Costa, por exemplo, relatou como sua imagem virou alvo. “A crítica construtiva é super bem-vinda, mas o cyberbullying e o hate são completamente diferentes de uma crítica construtiva, que vem com uma intimidade e uma relação pessoal”, destacou. Giulia contou sobre momentos em que foi fotografada por paparazzi na praia, com as imagens circulando em sites e redes sociais. Os comentários sobre seu corpo, muitas vezes agressivos, mostram como a linha entre visibilidade e violência digital pode ser tênue.

Como denunciar o cyberbullying

Uma das mensagens do encontro foi a de que ninguém precisa enfrentar o cyberbullying sozinho. “Quem está passando por isso tem algumas maneiras de lidar. Uma delas é fazer um boletim de ocorrência, porque é um crime”, reforçou Ervin.

Quem sofre ou presencia situações de bullying ou cyberbullying pode buscar ajuda em diferentes frentes. As denúncias podem ser feitas em delegacias comuns ou especializadas em crimes cibernéticos, além do Disque 100, que recebe registros de violações de direitos humanos. No campo da saúde mental, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio gratuito e sigiloso pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br. Procurar profissionais de saúde, como psicólogos e psiquiatras, também é fundamental para lidar com o impacto emocional da violência digital.

Além da denúncia formal, buscar apoio de amigos e familiares pode ajudar a quebrar o ciclo de isolamento que muitas vítimas sentem. O acolhimento se torna essencial para evitar que os efeitos emocionais se agravem.

Ervin também trouxe uma reflexão adicional: a tecnologia, que amplia o alcance do bullying, também está mudando a forma como lidamos com a saúde mental. Ele citou um dado curioso: “48% das pessoas que têm transtorno mental e estão em tratamento utilizam o ChatGPT como uma ferramenta complementar da terapia, porém o ChatGPT pode fazer o contrário do que a terapia comportamental orienta. Então isso já é uma nova preocupação que está aparecendo com o caminhar da internet”.

Ou seja: se por um lado a tecnologia pode ser aliada, por outro, é preciso cautela no uso de ferramentas digitais sem supervisão adequada.

Educação como prevenção

O enfrentamento ao cyberbullying passa também pela educação digital. Ensinar crianças e adolescentes sobre empatia, respeito e responsabilidade online é uma estratégia que pode reduzir os casos no longo prazo. Nas escolas, projetos de conscientização podem ser eficazes para criar ambientes mais seguros e colaborativos, tanto dentro quanto fora das telas.

Apesar de ser comum associar o cyberbullying a adolescentes, os adultos não estão imunes seja como vítimas, seja como agressores. O combate exige uma mobilização coletiva: famílias, escolas, plataformas digitais, governos e a sociedade civil.

No fim das contas, falar sobre cyberbullying não é apenas discutir leis ou estatísticas. É reconhecer que cada comentário agressivo pode carregar consequências reais na vida de alguém. E que, como sociedade, temos a responsabilidade de tornar a internet um espaço mais seguro e saudável para todos.


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